A Leitura da Linguagem Não-Verbal no Setting de Consulta em Medicina Dentária

Abstract

Introdução: Na consulta de Ortodontia em Crianças/Jovens, a comunicação relacional supera a linguagem verbal, sendo complementada por gestos, expressões faciais e outros sinais não-verbais (LNV). O Médico-Dentista (MD), para além de recorrer à palavra, funciona, também, como um verdadeiro “leitor” de sinais silenciosos muitas vezes não verbalizados pelos Doentes (Adams, 2012; Avramova, 2021; Dias et al., 2018). Objetivos: Explorar empiricamente como os Médicos- Dentistas e Pacientes Crianças/Jovens percecionam e avaliam os sinais não-verbais emitidos por esta Díade no decurso da consulta. Metodologias: Recorremos a uma amostra de conveniência (180 Médicos-Dentistas e 180 Crianças/Jovens) que frequentaram consultas de Ortodontia. No sentido de captar, as perceções sobre a comunicação não-verbal (LNV), foi desenvolvido um instrumento Original, que abrange duas variantes da Escala de Linguagem Não-Verbal (ELNV) do tipo Likert: i) a ELNVMD, destinada aos MD; ii) a ELNVC/J, orientada para os Pacientes Crianças/Jovens; e (iii) um Questionário Sociodemográfico. Cada versão da ELNV é constituída por 34 itens, distribuídos por cinco categorias: Expressão Facial, Gestualidades Corporais, Paralinguagem, Setting de Consulta e Manifestações Psicossomáticas. Resultados: A consistência interna dos itens que constituem a(s) Escala(s) LNV revelou- se sólida em ambas as versões, com α de Cronbach de 0,81 (IC 95 % [0,77-0,85]) para a ELNVMD e de 0,85 (IC 95 % [0,82-0,88]) para a ELNVC/J. A experiência profissional do Médico-Dentista parece revelar-se determinante: i) os Médicos-Dentistas com dois anos de prática parecem adotar um estilo de comunicação mais crítico, enquanto os profissionais com mais de dez anos de prática clínica, se mostraram mais atentos aos sinais emudecidos de sofrimento latente dos pacientes. Conclusão: A(s) ELNV(s) apresentam uma fiabilidade muito satisfatória, embora com uma margem futura de melhoria na coerência interna dos itens. Reconhecendo o valor clínico da comunicação não-verbal na reconstrução das vivências internas do paciente, torna-se imprescindível capacitar o Médico-Dentista de competências específicas para decifrar esses sinais. Deste modo, o estudo reforça a importância da leitura da linguagem não-verbal no contexto da Ortodontia em Crianças/Jovens e aponta para a necessidade de integrar formação específica ao nível da Comunicação Relacional, no campus do saber dos curricula pré e pós-graduados em Medicina Dentária.